Nossa relação com o ambiente doméstico já mudou muito ao longo do tempo, mas hoje ela tem essencialmente o papel de nos trazer conforto. “O gosto pela casa tem a ver com introspecção e a capacidade de se recolher a seus valores. Isso é algo favorável em uma época de recessão econômica, por exemplo. O retorno à casa é o retorno a si mesmo, o lugar onde você tem segurança, onde os objetos lhe são íntimos”, lembra a filósofa Viviane Mosé.
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Na história social do Brasil, fez muito sentido demarcar os limites das paredes de casa como um lugar privado, só seu. Se o motivador principal para isso parece ter sido a busca pela privacidade e pela segurança, como ainda acontece hoje em dia, não havia, na época, tanta intimidade com o lar como temos atualmente. Hoje a casa é extremamente personalizada, por isso mesmo, os momentos em que ficamos indoor também são aqueles em que estamos atentos a cada detalhe que nos rodeia. “Essa é a hora em que as necessidades de ajustes e cuidados ficam mais claras”, diz o sociólogo especialista em consumo Fabio Mariano.
O que te traz satisfação em casa? Como é possível tirar o melhor desses momenos? Conversamos com especialistas de diversas áreas e chegamos a dicas preciosas para manter o astral nas alturas! Já falamos sobre personalizar os espaços, sobre baixo consumo, Do it yourself e organização. No último post da série, vamos dar dicas para ter uma visão holística da casa e transformar seu lar em um lugar para repor as energias!
Espaço orgânico e sensorial
“Do meu ponto de vista, uma casa não deve ser apenas uma composição de formas e cores, mas deve ser uma experiência que se consome na alma do observador”, diz Carlos Solano, arquiteto e escritor, especialista em Feng Shui e coordenador da campanha Vamos plantar um milhão de árvores. “Disse o arquiteto mexicano Ricardo Legorreta que, ‘a arquitetura só cumpre sua função quando restaura os verdadeiros valores da vida, como espiritualidade, felicidade, paz, amor, mistério, otimismo, surpresa e humor no uso diário de um edifício’”. Esses são, para ele, “mandamentos” da arquitetura para uma casa mais feliz, onde a atenção aos sentidos é fundamental.
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Deixe a luz entrar
No futuro, as casas vão ser planejadas considerando a interação com o mundo natural à sua volta. Um design mais responsivo aponta para casas que, por exemplo, “se movem” atrás do sol. Enquanto isso não acontece, deixe a luz natural entrar pelas janelas da sua casa sempre. Nunca obstrua esse contato, tão essencial para elevar os níveis de bem-estar e promover saúde.
Invista em cores
A influência das cores na casa é enorme. Além de transformar visualmente os ambientes, elas interferem em nosso estado emocional e podem tanto colaborar para que você seja mais feliz em casa quanto te irritar ou te deixar melancólico. O melhor, claro, é investir nos benefícios que elas podem trazer. Um trecho do livro Casa Natural, de Carlos Solano, pode te ajudar a escolher qual serve para seu momento: “Segundo pesquisas recentes, um rosa forte libera hormônios que inibem a agressividade. O vermelho estimula a adrenalina, a eficiência, a criatividade e o desenvolvimento cerebral dos bebês. O azul ativa nada menos que 11 hormônios tranquilizantes, prepara o corpo para o sono, minimiza medos e diminui o desejo por comida: fazer as refeições em um prato azul pode ajudar a emagrecer. Essa cor aplaca o apetite. O violeta é antídoto contra insônia. O amarelo incentiva a compra e a venda, inclusive da casa. Nas paredes ou nas roupas, as cores podem ajudar a equilibrar o temperamento e a definir prioridades. Quer iniciar projetos? Ative o vermelho. Concretizar? O verde. Clareza mental? Ilumine-se com o branco e o amarelo. Estabilidade emocional? Vista-se de azul”.
Aposte nos aromas
Os aromas são tão significativos para definir suas sensações em um espaço que usá-los já virou uma poderosa estratégia de mercado. Um estudo realizado pela Universidade Rockefeller, de Nova York, estima que os seres humanos se lembram de apenas 1% do que tocam, 2% do que ouvem, 5% do que veem, 15% do que provam e 35% do que sentem o cheiro. Velas, difusores, incensos, sprays de ambiente… Envolva cheiros que tragam boas sensações dentro de casa. Dicas de Carlos Solano: “Escolha entre o limão (que revitaliza), a tangerina (que conforta), a laranja azeda (que alivia a ansiedade) ou a laranja-doce (que alegra) — também estimulantes para a mente. Se ainda quiser contar com a força renovadora do banho de mar, use, em seu preparo (óleo + água), uma pitada de sal”.
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Crie um espaço de silêncio
A casa é como se fosse um templo. É o refúgio quando voltamos do trabalho. O lugar onde recarregamos as energias. Para ser sua aliada na hora de ter foco e atenção, é importante criar espaços de silêncio, que, de vez em quando, são necessários. “O silêncio ajuda nessa capacitação, ou regeneração física e mental”, explica Carlos Solano. Isso pode ajudar a ter foco e a elevar os níveis de atenção – o tal do mindfullness, ou atenção plena, tão comentado nos dias de hoje. Este estado pode ser conquistado com práticas contemplativas, meditação e respiração. De tempos em tempos, programe seus aparelhos tecnológicos para o modo “sem interrupções” e, a seu modo, esvazie a mente por alguns minutos.
Entre em contato com a natureza
Não é novidade que estar próximo da natureza faz bem. Muitas pesquisas já demonstraram o quanto estar em contato com o mundo natural traz benefícios à saúde do corpo e da mente, como reduzir o estresse, a ansiedade e até mesmo os níveis de pressão sanguínia. Carlos Solano cita o artista plástico e arquiteto austríaco Friedensreich Hundertwasser, que criou uma equação interessante: “natureza + belo = felicidade”. “Ele diz que ‘a natureza é a expressão da harmonia universal, uma casa integrada à natureza usufrui dessa harmonia’. Para o arquiteto, a vegetação é o instrumento básico de aproximação da casa com a terra. Homens, húmus, humanidade, palavras que possuem a mesma origem, falam da nossa ligação profunda com a terra, portanto, citando novamente Hundertwasser: ‘conectar-se com a natureza é receita para se tornar mais forte e feliz’.” Passear no parque e ir à praia de vez em quando são “mandamentos”, mas, mais do que isso, dá para tentar trazer um pouco de verde para dentro da sua casa – nem que seja uma horta com temperos. “Na casa da maioria dos meus amigos, hoje, metade da decoração é feita com plantas. A melhor fonte de inspiração do design é o mundo natural”, conta o fotógrafo e artista plástico Felipe Morozini. Se você tem espaço, invista no paisagismo; se não, saiba que nem todas as plantas dão trabalho para cuidar, e existe uma série de espécies que resistem a ambientes fechados e luz difusa. Procure a que mais se adapta ao seu estilo de vida – o esforço vai ser recompensado.
Aconchegue-se
O lar é seu “ninho”. Em se tratando de conforto, os tecidos de fibras naturais são uma boa pedida. Além do algodão, usado há séculos pelo homem, a fibra de bambu é biodegradável e pode ser usada em alguns elementos da casa para trazer bem-estar. Em geral, as fibras naturais proporcionam toque macio, com microfuros, que permitem a ventilação e a capacidade termodinâmica de regular a temperatura e absorver a umidade; são mais flexíveis, suaves e não colam na pele, por isso são ideais para lençóis, toalhas e roupas de cama. Outros elementos que trazem conforto para sua casa são móveis estofados, tapetes, mantas e almofadas. Invista em materiais e texturas feitos com a maior porcentagem de origem natural possível e curta o aconchego!
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via: https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Dicas/noticia/2018/05/7-dicas-para-ter-uma-relacao-sensorial-com-sua-casa-e-manter-o-alto-astral-nas-alturas.html