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Hidrovias urbanas em São Paulo. É possível colocar em prática esta opção de transportes?

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O rio Tietê, assim como seu afluente Pinheiros está no coração de São Paulo. Divide basicamente a cidade em duas partes. Milhões de pessoas cruzam os rios sobre suas pontes ou trafegam nas vias expressas que os margeiam – as mais movimentadas do país. Seria possível transformá-los em hidrovias? A proposta do hidroanel diz que sim.

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O transporte sobre as águas poderia ser uma das mais viáveis soluções urbanísticas. A começar pela emissão de gases poluentes, afinal, estima-se que as embarcações fluviais emitam no máximo um terço de carbono a comparar com caminhões.

Quem conhece bem as marginais Tietê e Pinheiros sabe a quantidade de veículos (principalmente veículos pesados de cargas) que trafegam por elas diariamente. Além dos insuportáveis congestionamentos, os impactos do tráfego pesado nas marginais ocasionam poluição do ar, sonora e diminui em muito a qualidade de vida dos habitantes da metrópole.

Quando temos por base o tráfego existente nas principais vias expressas da cidade, parece óbvio movimentar determinados tipos de cargas – e até de passageiros – pelos rios. Embora haja uma série de limitações e dificuldades orçamentárias e políticas, é um passo vital para reduzir congestionamentos e poluição.

Será possível transformar os rios paulistanos em hidrovias? || Imagem: Folhapress
O HIDROANEL METROPOLITANO

Desde 2009, o governo paulista por meio do Departamento Hidroviário da Secretaria de Logística e Transportes, vem desenvolvendo em parceria com a FAU-USP, estudos de viabilidade técnica para implantação do hidroanel metropolitano.

A intenção maior é a implantação das hidrovias urbanas, integradas ao sistema de ônibus municipais. Ou seja, poderá ser utilizada tanto para o transporte de cargas como de passageiros. Em 2014, inclusive, foi incluída no Plano Diretor a previsão de redes hidroviárias.

O custo estimado para o desenvolvimento do hidroanel seria da ordem de R$ 2 bi. Para o professor da FAU-USP Alexandre Delijaicov  – coordenador do Grupo de Estudos Metrópole Fluvial da FAU/USP a decisão de implantar o hidroanel é muito mais política que técnica. Para ele, é preciso ainda uma mudança de mentalidade da população. “Estamos reféns do automóvel e do mercado imobiliário. É preciso mudar o imaginário dos cidadãos” – salienta.

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Como seria o hidroanel?

O Hidroanel Metropolitano de São Paulo é uma rede de vias navegáveis composta pelos rios Tietê e Pinheiros, represas Billings e Taiaçupeba. Além dos rios e represas, haverá um canal artifical, totalizando 170km de hidrovias urbanas.

Dessa forma, os rios urbanos se colocam como vias para transporte de cargas e passageiros, uso turístico e de lazer, além de contribuir para a regularização da macrodrenagem urbana. Criam-se, assim, áreas funcionais e lúdicas para a população.

Mapa dos trechos do Hidroanel Metropolitano de São Paulo. Elaborado pelo Grupo Metrópole Fluvial da FAU/USP. Disponível em: http://www.metropolefluvial.fau.usp.br/downloads/mapa_dos_trechos.pdf
Conceitos norteadores do hidroanel

Conforme o Grupo de Pesquisa Metrópole Fluvial:

– reestabelecer os rios urbanos como principais eixos estruturadores das cidades, com parques, praças e bulevares fluviais às suas margens.

– consolidação de um território com qualidade ambiental urbana nas orlas fluviais, que comporte infraestrutura, equipamentos públicos e habitação social.

– navegação fluvial urbana: portos de origem e destino inseridos na área urbana.

– navegação fluvial em canais estreitos e rasos em águas restritas (confinadas entre barreiras artificiais).

– transporte fluvial urbano de cargas públicas.

– logística reversa: reinserção no mercado dos resíduos sólidos transformados em matéria prima.

Fotomontagem da proposta de projeto para o canal Pinheiros presente na dissertação de mestrado de Eloísa Balieiro Ikeda, sob orientação de Alexandre Delijaicov. Fotomontagem: Bhakta Krpa. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-16022017-111213/>
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EXEMPLO INTERNACIONAL

Um exemplo paradigmático do uso de suas águas fluviais para o transporte de cargas é passageiros é encontrado em Paris – o rio Sena. O rio historicamente sempre foi utilizado para embarcações e o transporte de passageiros e cargas. No entanto, na década de 60, devido à poluição foi considerado biologicamente morto. A parti daí, porém, ocorreu um grande processo de recuperação e revitalização do rio – inclusive com maior uso para os transportes.

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O rio Sena como hidrovia em Paris. A rede de supermercados Franprix, inclusive, inovou ao movimentar mercadorias pela hidrovia. || Imagem: The Guardian

Apenas ao transporte de mercadorias são cerca de 35 milhões de toneladas anuais. O interessante são as inovações. O supermercado Franprix, por exemplo, transporta tudo que é comercializado em 135 de suas lojas pelo Sena.

QUAIS AÇÕES SERIAM NECESSÁRIAS PARA IMPLANTAÇÃO DO HIDROANEL?

Apesar de tudo, o trecho urbano dos rios paulistanos ainda possuem números limitados de cais e portos em suas áreas centrais. A eclusa do “Cebolão” na barragem Edgar de Souza já foi construída visando a hidrovia. Outra eclusa, a da Penha, está em construção.

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Há quem diga que o investimento em hidrovias só é economicamente viável quando o  percurso proposto tem no mínimo cerca de 400 quilômetros. No entanto, Delijaicov alerta que esse pensamento justifica apenas a formação de hidrovias regionais. Assim, o fato de a hidrovia urbana proposta possuir 170 quilômetros de extensão não representa um quesito negativo. A relativamente baixa metragem da hidrovia urbana não é considerada, pois nela não serão transportadas, como diz Delijaicov,  “cargas de passagem”. “A produção de soja do interior do Brasil não passará por esses canais para chegar ao porto de Santos”, exemplifica. Com isso, o ponto de origem e o ponto de destino estão dentro do Hidroanel. Deste modo as cargas transportadas não percorrerão longas metragens.

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Quase três décadas, mais de US$ 2,7 bi e sem resultado eficaz na despoluição do rio Tietê.
SUPERAR OBSTÁCULOS

Vale lembrar, no entanto, que há inúmeros obstáculos para a pela implantação do projeto. Para criar os cais, a construção de guindastes e frota fluvial para o transporte de cargas e passageiros, há uma necessidade urgente de investimento e colaboração entre a indústria, reguladores, autoridades locais e políticos.

É preciso lembrar que a poluição das águas também é um fator negativo para permitir a implantação do hidroanel. E a despoluição acontece a ritmo muito lento. As primeiras iniciativas ocorrem em 1992 e já foram gastos US$ 2,7 bi sem resultados efetivos. Talvez, o passo essencial seja cobrar por eficiência e respeito ao dinheiro público. Com isso, a exemplo de diversas cidades ao redor do mundo, possamos ter um rio navegável, as antes de tudo limpo.

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via: http://44arquitetura.com.br/2018/04/hidroanel-metropolitano-transporte/

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