Início Arquitetura Vamos falar de retrofit? Uma das grandes tendências da arquitetura

Vamos falar de retrofit? Uma das grandes tendências da arquitetura

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A concorrência em arquitetura está acirrada e o mercado de trabalho em oscilação. Apesar disso, há diversos nichos de trabalho em que arquitetos podem atuar, sendo o retrofit de construções um bom exemplo delas. No entanto, apesar de cada vez mais em evidência, será que você conhece como funciona o retrofit? Confundido com restauração e até reformas, muitos profissionais e estudantes de arquitetura tem dúvidas sobre o processo. Sendo assim, preste atenção nestas informações sobre o assunto:

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O QUE É RETROFIT

O retrofit não é uma reforma ou restauração! É preciso, portanto, ter isso como primeira condição. Para a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estácio, Skarlen Galvarro, o retrofit é um processo de atualização de um espaço construído que ficou ultrapassado. No entanto, sem perder a essência arquitetônica da sua época. “São feitas alterações para atender as novas necessidades e conforto do seu usuário: melhorias estéticas ou para se adaptar aos novos usos do espaço, como por exemplo, uma edificação habitacional passa a ter uso comercial ou corporativo” – esclarece.

É a modernização de um edifício que já existe e tem uma base estrutural íntegra, informa Charles Nunes que é Diretor de Operação da Área de Gerenciamento de Projetos e Obras na JLL, empresa especializada em consultoria imobiliária e em projetos de retrofit. Diferentemente, portanto, da reforma que é a manutenção de uma construção. Ou da restauração, sendo esta a preservação de uma obra já existente.

Reforma x restauração x retrofit

Para Skarlen, o retrofit trata-se de um reciclagem do espaço, a fim de adaptá-los para melhor aproveitamento. A atualização da edificação não precisa ser necessariamente completa. Pode ser apenas de um único sistema, como por exemplo, sistema de iluminação, fachada ou condicionamento artificial.

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Preservação do patrimônio histórico ao mesmo tempo em que permite a utilização adequada do imóvel. Imagem: Gazeta do Povo

“Na restauração, por exemplo, o apelo histórico é mais intenso do que ocorre no retrofit, já que a edificação tem sua importância pelo seu valor histórico, a fim das futuras gerações poderem identificá-la como representativo de uma época” – pontua a professora da Estácio.

Quanto à reforma, a edificação é modificada para adequar as novas necessidades e desejos dos usuários. Há melhorias tecnológicas, mas sem o aspecto da preservação histórica. Podendo, neste caso, haver até mesmo uma mudança no estilo arquitetônico da construção. É um processo mais livre quanto às soluções porque não há restrições históricas a serem atendidas, como ocorrem no retrofit e, principalmente, nos projetos de restauro.

OS OBJETIVOS DO RETROFIT

Charles Nunes da JJL, informa que retrofit tem como principal objetivo a modernização das instalações. No entanto, também pode ser usado para adequação ou atualização dos edifícios. O foco é sempre em cumprir novos usos ou até atender novas exigências técnicas e de normatizações. Com o viés, em muitas vezes, de revitalizar preservando os aspectos / componentes arquitetônicos e peças originais.

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A professora Skarlen Galvarro faz uma relação de quais seriam os principais objetivos:

  • Melhoria estética arquitetônica: atualização de fachadas com uso de novos revestimentos e/ou dispositivos como as proteções solares (brises), que além de interferirem esteticamente na construção, promovem melhorias no conforto térmico do ambiente interno;
  • Atendimento da legislação vigente: normas de acessibilidade e proteção contra incêndio;
  • Novos usos do espaços: uma edificação residencial, passa a ter função corporativa;
  • Uso de novas soluções tecnológicas para facilitar a manutenção ou promover maior eficiência energética, como por exemplo em sistemas de iluminação e condicionamento artificial;
  • Promover a valorização da edificação no mercado imobiliário,
  • Favorecer a sustentabilidade da arquitetura, pelo reaproveitamento de edificações já existentes, prolongando sua vida útil.

VANTAGENS DO RETROFIT

O Diretor da área de Gerenciamento de Projeto da JJL alega que uma das principais vantagens do retrofit seria a possibilidade de manter ou revigorar um ativo imobiliário adicionando funcionalidade e modernidade aos edifícios e, assim, transformar o uso das construções. “Somado a isso, é possível ganhar tempo nas aprovações e execuções, visto que não há a necessidade de se preparar um terreno ou fazer a fundação, basta manter a estrutura principal do edifício e modernizar as instalações” – acrescenta Charles.

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Retrofit de uma fábrica de tecidos tornando-se o novo campus da universidade Abdullah Gül, por Emre Arolat Architects..

 

O RETROFIT NO MUNDO E NO BRASIL

A técnica do retrofit surgiu nos Estados Unidos por volta dos anos 70. Uma das principais motivações para o surgimento do retrofit em países da Europa e nos Estados Unidos foi justamente a legislação rígida, não permissora de modificações em edifícios históricos que os descaracterizassem por completo. Sem possibilidade de demolição e criação de novas obras, a opção que restava era restaurar o existente. Atualmente, na Europa, cerca de metade de todos os projetos arquitetônicos lançados anualmente são retrofit.

De acordo com Skarlen, essa é a realidade do Brasil atualmente. “Uma das razões pela intensificação deste tipo de projeto se deve à escassez de terrenos com boa localização e à especulação imobiliária, principalmente nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde antes eram recorrentes as demolições. Entretanto, com as novas leis que visam à proteção dos patrimônios históricos, isso tem mudado”.

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Exemplos em São Paulo e Nova York

Em São Paulo há bons exemplos de retrofit, expõe a professora. Ela cita a Pinacoteca do Estado de São Paulo, cujo projeto de retrofit de Paulo Mendes da Rocha foi realizado a partir da instalação de uma nova rede elétrica e sanitária; elevadores para atender a legislação de acessibilidade e uso de telhados com vidros (melhor aproveitamento da iluminação natural no interior da construção). E, também, o SESC Pompéia com o projeto de requalificação de Lina Bo Bardi, que transformou duas ábricas de tambores em um espaço de lazer e cultura na cidade.

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O retrofit no Empire State Building permitiu que o prédio reduzisse em 38% o consumo de energia com a troca de 6.514 janelas.

Charles Nunes pondera o fato de no Brasil, a utilização do retrofit ser uma tendência mais recente. Para ele, no caso europeu o que fez com que a técnica se expandisse foi a grande quantidade de edifícios antigos. “Portugal, por exemplo, tem utilizado desta técnica de forma intensa para requalificar construções antigas para novos usos ou para se adequar as novas normas”. Ele também expõe o cenário nos Estados Unidos, onde o uso também é grande. “Um bom exemplo é o Empire State Building, que passou por um retrofit, realizado pela JLL. Após o processo, passou a atender certificações como a LEED, principal Certificação ambiental e de Sustentabilidade para edifícios. O retrofit permitiu também que o icônico prédio reduzisse em 38% o consumo de energia com a troca de 6.514 janelas”.

QUANDO OPTAR PELO RETROFIT?

Segundo Charles Nunes, o retrofit tem uma grande relação com o retorno do investimento. A ideia é requalificar o ativo e melhorar o retorno do valor médio da locação, por exemplo. Já a reforma ou a restauração visam manter ou preservar, sem necessariamente atualizar e modernizar.

O retrofit pode ser aconselhável em duas situações básicas:

– Quando a recuperação reduz custo em comparação a uma construção nova.

– Quando, no caso de uma edificação histórica, essa intervenção cria condições para novas funções e facilita o seu uso.

Em qualquer uma dessas situações, o retrofit tem o sentido da renovação! O retrofit, por isso, exige que se encontrem soluções integrais para as fachadas, instalações, elevadores, proteção contra incêndio e outros itens

Entretanto, o retrofit necessita que o projeto e planejamento sejam executados por profissionais competentes e especializados no assunto. É justamente nessa parte, inclusive, que o arquiteto com a intenção de trabalhar com retrofit precisa se envolver por completo no estudo desta área.

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OS TIPOS DE RETROFIT

– Atualização da edificação com sistemas de segurança, informática e telefonia:
Muitas empresas e condomínios têm optado em fazer o retrofit da parte elétrica e eletrônica de seus andares utilizando um piso elevado, em vez de colocar os cabeamentos pelo forro. Segundo as fontes consultadas, o resultado é melhor esteticamente, pois os fios ficam menos à mostra, e também facilita os trabalhos de manutenção e instalação dos equipamentos.

– Instalação de ar-condicionado central e sistemas de iluminação:
Também pensando na parte estética da reforma, algumas empresas têm instalado um forro de gesso para esconder as instalações de ar condicionado, juntamente com os fios da iluminação. volta

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Retrofit consiste em conservar a estrutura original do edifício, acrescentando a ela materiais e equipamentos modernos. Imagem: Fórum da Construção

– Reforma da portaria, hall e elevadores:
Também com finalidade estética, tem o objetivo de valorizar o patrimônio. Uma simples troca na decoração do hall, no entanto, não constitui o retrofit. retrofit não é maquiar os defeitos, mas melhorar e aprimorar as instalações de uma edificação.

– Programação dos andares:
Pode ser tanto visual (estética) quanto uma redistribuição da área construída. Nesse último caso, em que se divide um andar, por exemplo, em várias salas ou apartamentos, constitui-se um retrofit com alteração de planta ou projeto. É necessária a aprovação da nova planta na prefeitura.

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– Modernização da fachada:
Pode ser feita uma alteração radical, como a colocação de estruturas metálicas ou a troca de vidros e janelas. Alterações mais simples, como a mudança da pintura ou a troca de tintas por pastilhas (e vice-versa) também podem ser consideradas retrofit. O objetivo dessas intervenções é estético e pode gerar a valorização do imóvel. Para alterar a fachada é preciso aprovação da prefeitura local.

TRABALHAR COM RETROFIT

Por ser o retrofit uma área com crescente demanda e exigir constantes atualizações do profissional, é importante que esse futuro arquiteto esteja sempre antenado e nunca pare de estudar, sugere a professora de arquitetura e urbanismo Skarlen Galvarro. “Faça novos cursos, especializações, como em projetos de iluminação, gerenciamento de projetos, compatibilização de projetos e automação predial”. O processo de retrofit, por abordar num mesmo projeto o antigo e o novo, é um projeto complexo, que exige equipe especializada para tornar o projeto de retrofit economicamente viável e funcional, conclui a professora.

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SESC Pompéia em São Paulo é um retrofit. Com projeto de Lina Bo Bardi, houve a transformação de uma fábrica em área de lazer e cultura.

Imagem de capa: Pinacoteca do Estado de São Paulo. O prédio passou por retrofit com projeto de Paulo Mendes da Costa. Imagem: FlickR/SeLusava Photographer.

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via: http://44arquitetura.com.br/2018/05/retrofit-crescimento-profissionais/

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