De nada adianta tratar os sintomas de uma doença se ela é causada ou agravada pelo próprio lugar onde se vive. Cuidados de projeto, construção e manutenção contribuem para que a casa não fique “doente”, preservando a saúde dos moradores.
O matemático Guilherme Zuccolotto, 28, só percebeu a relação entre sua rinite alérgica e o apartamento onde mora há 15 anos, na zona sul de São Paulo, quando fez um intercâmbio aos Estados Unidos, em 2015. “No ano em que fiquei fora, minhas crises melhoraram muito”, conta.
O motivo é o mofo que cresce em uma das paredes do seu quarto. “Vários moradores do prédio têm o mesmo problema, por causa do layout do apartamento”, diz.
As janelas dos dois banheiros do imóvel de 80 metros quadrados dão para a área de serviço, e o vapor do banho acaba ficando preso dentro do apartamento. Além da umidade, a falta de luz solar no cômodo favorece a proliferação dos fungos.
“Já lixei a parede e fiz reformas, mas sempre volta”, afirma Zuccolotto. Os sintomas, como espirros e alergias de pele, pioraram no último ano, quando ele passou a trabalhar em casa.
“O mofo é algo que precisa ser resolvido. A exposição prolongada ao fungo pode gerar até quadros pulmonares graves em pessoas de qualquer faixa etária”, alerta o pneumologista José Eduardo Cançado, professor da faculdade de medicina da Santa Casa de São Paulo.
Para acabar com o bolor, é necessário solucionar a causa: a umidade, que pode ser resultado de vazamentos, infiltrações ou falta de ventilação –como no apartamento de Zuccolotto.
“Nesse local, uma saída seria instalar um exaustor ou um desumidificador de ambiente”, diz Leonardo Cozac, engenheiro especializado em qualidade do ar interno.
Para remover o mofo de paredes, aplicar cloro sobre a mancha não é suficiente. “É preciso removê-la com um pano úmido e aspirador de pó, tomando cuidado para não levar a contaminação para outros espaços”, afirma.
Se persistir, é sinal de que o bolor pode ter se espalhado por dentro da parede. Aí, o mais indicado é abri-la para verificar sua dimensão.
Segundo o especialista, a tinta antimofo pode ser uma aliada, já que dificulta o crescimento dos fungos, mas não resolve o problema sozinha.
Outro cuidado para conter o desenvolvimento de micro-organismos é optar por materiais com superfícies lisas e fáceis de serem higienizadas. “Carpetes e papéis de parede devem ser evitados”, afirma Maria Augusta Justi Pisani, professora de arquitetura e urbanismo da Mackenzie.
O ar-condicionado também deve receber manutenção regular (a cada seis meses), para que não se torne um veículo de propagação de vírus, bactérias e fungos.
AR RENOVADO
A troca do ar é fundamental para diminuir a concentração tanto de contaminantes biológicos como químicos dentro de casa.
Os compostos orgânicos voláteis, como o formaldeído, podem ser emitidos por colas, tintas, vernizes e móveis. Alguns deles são tóxicos e considerados cancerígenos.
Para facilitar a renovação de ar, o ideal é que os imóveis tenham janelas em mais de uma face. “Isso possibilita que o ar entre por um lado e saia por outro”, afirma o engenheiro Luiz Henrique Ferreira, diretor de uma consultoria especializada em sustentabilidade.
O biólogo Allan Lopes, especialista em biologia da construção, área que estuda o impacto das edificações na saúde humana, defende que, mesmo em cidades poluídas, as janelas fiquem abertas. “Com a casa sempre fechada, o ar interno pode ficar mais poluído do que o externo”, diz.
Cançado, da Santa Casa, concorda, mas faz uma ressalva: “Evite ventilar a casa nos horários de pico do trânsito”.
Fontes: Allan Lopes, geobiólogo e diretor do selo Casa Saudável; Maria Augusta Justi Pisani, professora da faculdade de arquitetura e urbanismo da Mackenzie; Luiz Henrique Ferreira, engenheiro civil especializado em sustentabilidade; e Gustavo Graudenz, médico imunologista com especialização em qualidade do ar e Folha de SP.
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