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Desafios da arquitetura: projetar para idosos. Estamos preparados?

Com o envelhecimento de nossa população, os arquitetos brasileiros estão preparados para projetar para idosos?

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Segundo o IBGE, o Brasil já possui 30 milhões de idosos. E a tendência é de que o ritmo de crescimento desta faixa etária seja constante. Ainda segundo o órgão, a partir de 2050, brasileiros com 65 anos ou mais representarão um terço da população. Mas e como a arquitetura e os arquitetos lidarão com esta nova realidade?

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Ademais, uma questão muito importante é: os arquitetos brasileiros estão preparados para trabalhar com os mais velhos? Muitas questões influenciam nesta resposta. Desde as tomadas de decisões e as políticas desenvolvidas pelos administradores públicos, até uma mudança comportamental por parte dos profissionais.

Para esclarecer um pouco mais sobre o assunto, a 44 Arquitetura entrevistou por e-mail o arquiteto e professor Eraldo Rocha. “Essas carências são pouco percebidas ou até relevadas em alguns casos pela população em geral, mas, quando uma pessoa com necessidades especiais se depara com dificuldades proporcionadas pelo espaço físico construído, isso se torna uma barreira arquitetônica” – destaca.

O arquiteto salienta que do ponto de vista da arquitetura, o maior problema aos idosos está relacionado à acessibilidade, dentro e fora de suas casas. Essa acessibilidade pode ser exemplificada por problemas de mobilidade e locomoção, dificuldades de acionamento de alguns tipos de maçanetas de portas, comandos de torneiras e registros, além de problemas para ler, ouvir e interpretar placas de sinalização, sinais sonoros e avisos de advertência. Sendo assim, projetar para idosos é um desafio a ser levado em consideração pelos profissionais.

Eraldo Rocha

Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1997) e mestrado em Desenho Industrial pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2007). Atualmente é professor titular da Universidade do Sagrado Coração . Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: conforto Ambiental, deficientes físicos e barreiras arquitetônicas. Há mais de 20 anos possui o Escritório de Arquitetura Eraldo Rocha  em Bauru-SP.

Confira na íntegra a entrevista sobre arquitetos projetar para idosos:

44 ARQUITETURA: Segundo o IBGE, a população idosa no Brasil cresce acima da média mundial e em 2050, pessoas com 65 anos ou mais representarão um terço da população. Por outro lado, as cidades e as construções não estão preparadas para atender a este novo perfil populacional. Como o professor enxerga a importância dos profissionais de arquitetura neste cenário?

Eraldo Rocha: É muito relevante a responsabilidade do profissional de arquitetura quanto a projetar para idosos. Assim como em todo o planejamento da cidade e sua configuração geral. Infelizmente essa questão em particular expõe um problema mais sério e mais amplo da nossa atuação profissional e também por parte das administrações públicas responsáveis pelas cidades. Por parte dos profissionais, podemos dizer que esse problema expõe uma carência geral na qualidade das nossas edificações. Estas qualidades são principalmente de funcionalidade, nesses casos pode haver por parte de alguns profissionais, uma falta de comprometimento com a acessibilidade. Já por parte das administrações públicas, o problema maior se da por falta de manutenção e cuidado com os espaços públicos que agravam essa situação.

Essas carências são pouco percebidas ou até relevadas em alguns casos pela população em geral. Mas quando uma pessoa com necessidades especiais se depara com dificuldades proporcionadas pelo espaço físico construído, isso se torna uma barreira arquitetônica. E nesse caso vale lembrar que  o termo necessidades especiais, não se refere somente a pessoas com algum tipo de deficiência congênita. E sim toda pessoa que permanente ou temporariamente, tem uma necessidade especial, diferente da grande maioria, como pessoas em recuperação de lesões que estão de muletas, bengala ou cadeira de rodas, e até mesmo mães de bebês de colo que quando andam com seus bebês tanto no colo quanto em carrinhos precisam de espaços mais acessíveis.

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Agentes de transformação

E é nesse caso de necessidades especiais que se enquadram a maioria da população idosa. Seja por dificuldades de locomoção como por dificuldades de cognição, como dificuldade de enxergar e ouvir, que nossas cidades se demonstram despreparadas.

Os profissionais de Arquitetura e Urbanismo, seja da iniciativa privada como participantes das administrações públicas, são os principais agentes de transformação das cidades. Dai sua grande importância e a necessidade de seu pleno comprometimento com o espaço acessível.

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44: O que o professor considera como as maiores carências arquitetônicas para a população idosa no Brasil?

Eraldo: Do ponto de vista da arquitetura, o maior problema está relacionado a acessibilidade, dentro e fora de sua casa. Essa acessibilidade pode ser exemplificada por problemas de mobilidade e locomoção, dificuldades de acionamento de alguns tipos de maçanetas de portas, comandos de torneiras e registros, além de problemas para ler, ouvir e interpretar placas de sinalização, sinais sonoros e avisos de advertência. Mas os problemas mais graves com certeza são os relacionados com dificuldades de mobilidade e locomoção. Dentro das casas quando elas foram projetadas sem a preocupação de acessibilidade. No entanto, isso se agrava, e muito, quando olhamos para os espaços públicos.

O maior problema pode ser percebido na maioria das nossas calçadas. É comum encontrarmos calçadas que não tem uma continuidade de pavimentação e organização da ocupação do espaço público. É possível perceber arborização, postes, lixeiras e tantos outros equipamentos e mobiliários urbanos colocados aleatoriamente nas calçadas. Tudo isso, sem uma lógica de alinhamento e organização. Isto ocasiona que a circulação por elas caminhando ou sentado numa cadeira de rodas se torne uma verdadeira pista de obstáculos. Sem contar degraus existentes entre um lote e outro e muitos deles com alturas intransponíveis até para alguns atletas. A calçada é nosso espaço público mais precioso. A sua negligência é prejudicial não só para a população idosa mas para toda cidade.

projetar para idosos
Para o arquiteto Eraldo Rocha é preciso haver preocupação de projetos arquitetônicos e urbanísticos. A falta de planejamento trazem inúmeros desafios à população idosa. Na imagem, calçada deteriorada em Sorocaba/SP. || Imagem: Jornal Cruzeiro
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44: Em geral, as residências são projetadas a pessoas mais jovens. É papel dos profissionais de arquitetura alertarem sobre uma estrutura que permitirá acessibilidade futura?

Eraldo: Além de alertar e convencer dessa necessidade, o profissional de arquitetura deve sempre que possível aplicar em seus projetos o conceito de desenho universal. Ou seja, propor um espaço acessível a qualquer pessoa, sem que esse necessite ser “adaptado”.

44: O senhor acredita que os profissionais de arquitetura estão preparados para propor e realizar soluções a este novo perfil populacional?

Eraldo: Preparados sim; uma vez que esse assunto é matéria obrigatória em todos os cursos de Arquitetura e Urbanismo do país. Além disso, objeto de lei vigente que regulamenta e obriga todo projeto a cumprir regras de acessibilidade. Porém, mais importante que isso é o comprometimento que todo profissional precisa assumir de não só atender os requisitos mínimos previstos em lei. Mas principalmente em propor projetos realmente comprometidos com o a acessibilidade e com o desenho universal.

44: Qual orientação o senhor daria a estudantes e profissionais recém-formados quanto à preocupação de pensar a arquitetura para os idosos, que comporão parte expressiva da população em algumas décadas?

Eraldo: Quando o projeto é direcionado especificamente aos idosos, como vilas de repouso, condomínios ou até unidades individuais, enfatizo sempre o conceito do desenho universal. Desta forma é possível uma solução para todos os tipos de usuários.

Porém procuro sempre ressaltar que o profissional de Arquitetura e Urbanismo tem uma responsabilidade muito grande na formação das nossas cidades. E por consequência, da nossa sociedade. Cabe a eles o comprometimento ético com essa sociedade. Esse comprometimento, fará com que eles olhem para o cliente não somente como um indivíduo cercado de seus desejos pessoais, mas como parte integrante de uma sociedade, e uma parte da construção da própria cidade. Desse modo, construiremos uma cidade e uma sociedade mais igualitária do ponto de vista dos espaços construídos.

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via: http://44arquitetura.com.br/2018/08/projetar-para-idosos/

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