Você sabe o que significa greenwashing? O termo em inglês é normalmente traduzido como lavagem verde e se refere a produtos ou serviços que se autodeclaram sustentáveis, mas, na verdade, não são. Trata-se de uma estratégia de marketing para responder aos anseios por sustentabilidade dos consumidores, sem uma transformação real nas empresas.
Nem sempre a empresa diz clara e falsamente que o produto ou serviço é sustentável. Por vezes, basta o uso da cor verde – o green, de greenwashing –, que, normalmente, simboliza o meio ambiente, nas embalagens e propagandas, para induzir as pessoas a acharem que estão fazendo consumo consciente.
Segundo Graziela Nivoloni, pesquisadora de sustentabilidade e coordenadora do curso de Design e Serviço e do laboratório de biomateriais do Istituto Europeo de Design (IED), no Brasil existe muito greenwashing e falta transparência porque não há um índice brasileiro confiável que apresente o quanto as empresas investem em sustentabilidade, ou o quanto um produto é composto por materiais ecológicos. “Os consumidores precisam ficar caçando informação, o que nem sempre é possível na correria do dia a dia”, diz.
Ainda que o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) já tenha multado empresas por propagandas com falsas alegações de sustentabilidade, ainda há pouca fiscalização e responsabilização por práticas de greenwashing.
Pressão por sustentabilidade pode levar a greenwashing
Vários dados apontam que a maioria das pessoas prefere produtos e empresas sustentáveis. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que, em 2024, 81% adotam hábitos sustentáveis sempre ou na maioria das vezes – contra 74%, em 2022. Ainda, que 62% consideram difícil encontrar produtos sustentáveis em lojas e 45% não verificam se o produto que vão comprar foi produzido de forma ambientalmente correta.
Já a agência de pesquisa norte-americana Union + Webster apontou que 87% da população brasileira prefere comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis, sendo que 70% dos entrevistados também afirmaram não se importar em pagar um pouco mais por isso.
“As empresas querem se tornar sustentáveis porque precisam, estão sendo cobradas pelos consumidores, mas é difícil fazer a virada”, diz Graziela. Neste contexto, para ela, os designers de produtos e serviços podem ter um papel fundamental para ajudar as empresas na transformação.
Por isso, o IED inclui a sustentabilidade ao longo de toda a formação de Design, com destaque para o sexto semestre, em que os estudantes precisam criar um projeto interdisciplinar de consultoria de design de Environmental, Social and Governance (ESG) para uma empresa brasileira.
Sustentabilidade deve ser sistêmica, não pontual
“Para uma empresa ser sustentável, não basta escolher plástico reciclado para uma embalagem, ou ter uma única política de diversidade. Precisa ser sistêmico”, explica Graziela. Quando a sustentabilidade não está presente integralmente, nas maneiras de gerir, criar, produzir e vender, trata-se de greenwashing.
“O que frequentemente acontece é a maioria do investimento em sustentabilidade das empresas ir para o marketing, para divulgar amplamente uma ação muito pontual, que só aconteceu uma vez”, complementa.
Mas como saber se um produto ou serviço é sustentável de maneira rápida, sem ter informações disponíveis ou tempo para pesquisar mais? Uma boa maneira é questionar se está incentivando o consumismo, se custou barato demais e se vai logo para o lixo. Se desconsiderou o trabalho das pessoas e a extração da matéria-prima e está se dizendo sustentável, provavelmente é greenwashing.
Greenwashing na arquitetura
O greenwashing pode estar também na arquitetura e na construção civil. É cada vez mais comum ver empreendimentos imobiliários lançados como sustentáveis, com uso de verde na comunicação, mas, na verdade, trazem apenas um ou dois traços de sustentabilidade.
Ainda, há edifícios que são realmente sustentáveis, com características como eficiência energética, paisagismo nativo, coleta e reaproveitamento de água da chuva e geração de energia solar, mas que envolveram em sua construção mão de obra sem direitos ou em condições precárias. Isso também é greenwashing. Afinal, sustentabilidade não é apenas ambiental, mas também social.
Uma boa maneira de garantir que um edifício é realmente sustentável são as certificações, como os selos Leed e Aqua-HQE. Como são bastante rígidos, eles atestam que não se trata de greenwashing.
Para projetos menores, de interiores residenciais, por exemplo, são menos comuns as certificações. Ainda assim, é possível estudar e seguir as recomendações delas e cobrar do seu arquiteto ou designer de interiores uma postura sustentável, que vai além da especificação de um ou outro material. “Escolher madeira certificada é muito pouco”, alerta Graziela.
Não se esqueça de que quanto menos demolição houver, mais sustentável uma reforma é. Ainda, vale apostar em móveis e acessórios já usados, evitando a produção de novas peças. Por mais sustentável que um novo produto para a casa alegue ser, comprar ou ressignificar algo antigo, durável, que tenha vários usos, sempre será melhor para o planeta.
Exemplos de greenwashing para ficar atento
O couro ecológico, muito usado na produção de mobiliário e de roupas, talvez seja o maior exemplo de greenwashing da atualidade. Ele traz ecológico no nome, por ser uma alternativa ao couro animal, mas, na verdade, é fabricado a partir de matérias-primas petroquímicas e tem baixíssima durabilidade.
Outros exemplos de greenwashing para ficarmos atentos são:
- Quando há desenhos de folhas e flores na embalagem ou na propaganda, pode ser uma indução estratégica ao erro do consumidor;
- Mesmo ocorre quando o nome da marca ou do produto tem os termos health, green ou planet;
- Quando um produto se diz sustentável, mas foi produzido muito longe do local de consumo, implicando em longas jornadas de transporte a base de combustíveis fósseis;
- Quando uma empresa divulga que está investindo em reflorestamento, mas está destruindo outro bioma;
- Quando a propaganda de um produto insiste muito em um aspecto sustentável sobre ele, mas não fala do geral;
- Tudo que se diz sustentável, mas envolve plásticos descartáveis.
via: Greenwashing: o que significa e como ficar atento | Sustentabilidade | Casa e Jardim