Quando você pensa em um hospital, o que vem à sua cabeça?
Muitos associam hospitais a ambientes frios e estéreis. Existem inclusive pessoas com fobia do ambiente hospitalar. Essas fobias podem ser geradas a partir de más experiências ou pelo próprio ambiente.
Infelizmente, a maioria dos hospitais hoje não são espaços convidativos, muitos menos que remetem à cura. Isso prejudica tanto os pacientes, quanto os funcionários.
Essa característica é bastante problemática. Uma vez que sentimentos como nervosismo, preocupação e até mesmo luto são frequentes nesse espaço.
O ambiente que nos envolve afeta diretamente a maneira como nos sentimos. Ele tem potencial de acentuar ou atenuar sensações.
Por esse motivo, é muito importante que um hospital seja um espaço terapêutico e que ajuda na cura de seus pacientes.
A biofilia surge como uma alternativa para tornar espaços hospitalares mais humanizados.
Hospitais que adotam estratégias biofílicas podem apresentar, inclusive, redução de custos. Isso acontece através da maior eficiência dos trabalhadores e redução de permanência dos pacientes.
Histórico: como os hospitais deixaram de ser saudáveis
Por volta de 1920, havia uma epidemia de tuberculose na Europa. As causas da doença eram tidas como falta de ventilação, enclausuramento, sedentarismo e falta de luz solar.
Na época, o movimento moderno da arquitetura vinha se desenvolvendo. Como resultado, foram construídos hospitais para ajudar na recuperação dos pacientes. Esses hospitais possuíam grandes janelas, cores claras e solários para que os pacientes pudessem pegar sol.
Contudo, ao passar dos anos e dos avanços da medicina, essa preocupação com espaços terapêuticos e de prevenção foi se perdendo.
As principais causas foram a invenção dos antibióticos e a necessidade de construir hospitais mais baratos. Como já existiam remédios, adotou-se um pensamento de que as pessoas não precisariam de cuidados e prevenção.
Aliado a isso, a redução dos custos para a construção de hospitais ocasionou o surgimento de hospitais insalubres. Espaços escuros, sem iluminação ou ventilação natural, muitas salas de recuperação não possuíam ao menos janelas.
Mais tarde, por volta de 1970, os sistemas de ar condicionado e iluminação artificial evoluíram. Ou seja, as janelas definitivamente não eram mais uma prioridade.
Isso ocasionou um efeito cascata. As más condições dos hospitais prejudicavam a recuperação dos pacientes. Estes, acabavam por ficar mais dias internados e demandavam mais remédios.
A volta à natureza
Em 1984, Roger Ulrich publicou um artigo sobre como as janelas influenciavam a recuperação de pacientes.
A partir desse período, passou-se a estudar a importância do contato com a natureza. As pessoas começaram a perceber como esse contato era saudável e ajudava a prevenir doenças.
Também foram realizados estudos sobre a disseminação de micróbios. Pesquisadores descobriram que os micróbios não toleram luz do sol e variações de temperatura. Isso significa que ambientes mal iluminados e com temperaturas constantes são propícios para sua proliferação.
Ou seja, já estava claro que ambientes hospitalares mal planejados acarretam:
- Aumento da disseminação de doenças;
- Maior permanência dos pacientes;
- Estresse em pacientes e funcionários;
Tudo isso aumenta os custos de um hospital.
Portanto, hoje já se busca trazer de volta essas estratégias biofílicas. Afinal, elas diminuem os custos e ampliam os benefícios.
Reduzindo custos de um Hospital com biofilia
Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), os principais custos de um hospital são os funcionários e os medicamentos.
Analisando essa tabela, é possível definir estratégias de redução de custos. Estas envolvem maior eficiência dos funcionários e a prevenção de doenças.
O investimento em medicina preventiva ajuda na diminuição dos custos de um hospital a longo prazo.
Essa medicina preventiva está diretamente ligada a um estilo de vida mais saudável da população em geral. Ela não depende somente do ambiente hospitalar. Mas sim dos ambientes residenciais, corporativos e da cidade na totalidade.
Cidades caminháveis e arborizadas incentivam seus habitantes a fazer trajetos a pé e ter contato com a natureza. Essas atitudes aumentam a imunidade e previnem diversas doenças.
Da mesma maneira, terraços verdes ou jardins externos em hospitais podem somar na cura de doenças. Já que eles são espaços terapêuticos.
Mas quais são as estratégias eficientes para o ambiente hospitalar interno?
Estratégias de Biofilia em Hospitais
Agora que está claro como a natureza é importante para a saúde, o desafio é inserir essa natureza em um ambiente hospitalar.
Um hospital, antes de tudo, deve ser um ambiente limpo e saudável. Portanto, ao utilizar materiais naturais, é preciso cuidar com questões sanitárias.
Em geral, um hospital possui diversas alas, desde salas de espera até salas de cirurgia. Esses diferentes espaços vão exigir diferentes cuidados.
Na imagem acima, a sala de espera do hospital possui um grande jardim verde. Esse elemento tem potencial de tranquilizar visitantes, por exemplo.
A natureza, contudo não precisa estar presente em sua forma literal. Ela pode se apresentar através de diferentes maneiras:
Cores
Tons terrosos e neutros são elementos biofílicos, pois remetem à natureza. As cores azul e verde também, além de serem cores da natureza, transmitem paz e calma.
As cores podem ser usadas para diferenciar as alas, ajudando na orientação espacial. A acessibilidade também inclui a interpretação do espaço. As pessoas se sentem mais seguras em ambientes onde podem se orientar sozinhas. Isto é, chegar no local e saber para onde se dirigir, onde estão os sanitários, refeitórios, salas de cirurgia, entre outros.
Texturas
Texturas naturais incluem a madeira, pedras ou tecidos naturais. Contudo, por vezes as exigências sanitárias impedem o uso desses elementos em hospitais.
Como solução, há materiais que imitam texturas naturais, como laminados e vinílicos.
Formatos
Os formatos naturais podem se apresentar como adesivos em vidros, papéis de parede, silhuetas e formatos em mobiliários e assim por diante. Embora não sejam verdadeiros, causam efeitos semelhantes aos elementos reais.
Parede verde
Assim como os jardins, as paredes verdes não podem ser aplicadas em todas as áreas de um hospital. Porém, um hospital na Noruega passou a utilizar um musgo estabilizado em espaços de saúde. Esse musgo não absorve impurezas ou junta poeira, o que possibilita seu uso em mais áreas hospitalares.
Outras plantas apropriadas são as tulipas, os cactos e as orquídeas.
Ilusões de ótica
As ilusões de ótica ajudam a criar a sensação de estar próximo à natureza. Ela pode ser criada através de painéis digitais ou retroiluminados. Ou ainda com quadros e pôsters.
Porém, alguns cuidados são necessários. É preciso garantir que a ilusão faça sentido. Se você deseja criar uma ilusão de céu, os painéis precisam estar no teto. Mas se você pretende criar uma ilusão de paisagem, ela deve estar na parede.
Vistas
Não podemos deixar de mencionar a importância das janelas. As janelas permitem iluminação e ventilação natural. Além de ajudar na saúde, a luminosidade natural regula o ciclo circadiano do corpo. Assim, ajuda o corpo a sentir seu momento de descanso.
Ao contrário do que muitos pensam, uma vista de qualidade não precisa ser necessariamente para a natureza. Uma vista da cidade também é positiva, pois permite que o paciente se distraia e observe o movimento.
Os Hospitais estão se curando
É controverso o fato de os hospitais terem se tornado ambientes hostis. De fato, os cuidados com limpeza e higiene são necessários. Porém, é preciso mudar a forma como os ambientes internos são planejados.
Gradualmente, a arquitetura hospitalar avança para oferecer espaços saudáveis aos pacientes. Em paralelo, minimiza os altos custos que um hospital arca mensalmente.
É um sistema em que todos os lados ganham. Os funcionários do hospital tem um ambiente de trabalho agradável, os pacientes se recuperam mais rápido e os custos diminuem.
Via Ugreen (https://www.ugreen.com.br/hospitais-e-a-biofilia-como-aliada-na-cura/)