Cópia da Igreja de São Miguel Arcanjo, de Mallet, no Parque Tingui é exemplar perfeito da construção vernacular com planta em cruz grega
Há 23 anos Curitiba abriga a irmã gêmea da igreja ucraniana mais antiga do Paraná. Toda em madeira e no estilo bizantino, com exposição permanente de pêssankas (ovos pintados à mão), ícones e bordados.
É a principal construção do Memorial Ucraniano do Parque Tingui, que é uma réplica da Igreja de São Miguel Arcanjo, da Serra do Tigre, em Mallet, no interior do estado, que este ano celebra 115 anos.
Neste domingo (27) a comunidade ucraniana organizou uma tarde cultural, com palestra sobre a imigração ucraniana, visita guiada ao Museu do Memorial e apresentações de coral e dança do folclore ucraniano. O evento vai até as 17h.
Mas não é só pela idade que o templo merece nossa atenção. A igrejinha de 20 metros de altura, 15 metros de comprimento e 12 metros de largura, também “é a mais perfeita e acabada expressão do partido de planta em cruz grega [que possui os quatro braços do mesmo tamanho e representa o equilíbrio entre o divino e o terreno]”, como sentenciam os arquitetos Fábio Domingos, Marialba Gaspar Imaguire e Sandra Magalhães, no livro “Igrejas Ucranianas: Arquitetura da Imigração no Paraná”, uma iniciativa do Instituto Arquibrasil.
O templo chama atenção ainda por outras características: os braços vertical e horizontal se interceptam sob a cúpula, que tenta imitar a abóbada celeste, e a composição do volume é piramidal, com um elemento arquitetônico se apoiando sobre o outro, sendo bem visível do lado de fora.
A construção original em Mallet começou em 1889 e foi concluída em 1903 sob orientação do Padre Nikon Rozdolskey. A partir de 1955 sofreu algumas reformas, pinturas e substituição de tabuinhas. É reconhecida oficialmente como patrimônio paranaense desde 1982. Sua conservação se deve à atenção da comunidade local.
Em Curitiba, o local virou ponto de encontro da comunidade ucraniana para diversas festividades, como a Bênção dos Alimentos (no Sábado de Aleluia), a Festa Nacional da Ucrânia (em agosto), a Festa da Colheita (em outubro) e a Festa de São Nicolau (em novembro).
O Paraná abriga a maior comunidade ucraniana da América Latina: 400 mil descendentes. E os especialistas garantem: a maior herança da presença ucraniana no Paraná, primeiro estado a receber os camponeses ucranianos em 1891, está na inconfundível arquitetura eslava dos mais de 200 templos construídos no estado.
Segundo Domingos, as igrejas erigidas pelos ucranianos diferenciam-se das demais construções luso-brasileiras em diversos aspectos. “Isso acontece porque a cultura ucraniana herdou grande parte dos elementos da tradição bizantina, como a presença de cúpulas arredondadas e os ícones”, frisou o arquiteto.
Construídas geralmente em madeira, as cúpulas com vários lados são regra na arquitetura do Império Bizantino e raras na tradição latina. “Na maioria das igrejas ucranianas, elas têm oito lados e sempre estão em números ímpares”, pontuou Domingos.
Uma única cúpula significa a fé em um único Deus, três indicam a fé na Santíssima Trindade e cinco sinalizam Cristo cercado pelos quatro evangelistas. As cores mais comuns que revestem a área interna das cúpulas são azul, quando a igreja é dedicada à Virgem Maria, e verde, quando feita em nome da Trindade Santa.
SERVIÇO
O Memorial Ucraniano fica na Rua Dr. Mba de Ferrante, no Parque Tingui, e funciona de terça-feira a domingo, das 10h às 18h. Mais informações: (41) 3321-3247.