Em um hospital, uma única conversa pode trazer boas ou más notícias aos pacientes.
Nesse contexto, quando não são levados às pressas para as salas de tratamento, os doentes geralmente se sentem preocupados e estressados com sua saúde.
No âmbito hospitalar, os profissionais da medicina têm um dos trabalhos mais extenuantes, com mudanças repentinas nas condições de saúde dos enfermos.
A atmosfera geral nos hospitais tradicionais é, portanto, tensa e preocupante, e isso tem um efeito adverso no bem-estar dos pacientes.
No final da década de 1970, Aaron Antonovsky, professor, pesquisador e sociólogo médico, identificou as consequências do estresse na saúde.
Sobrevivente de campos de concentração, ele se perguntou como a maioria das pessoas que lutam constantemente contra doenças consegue sobreviver e permanecer saudável.
Antonovsky mudou sua abordagem de pesquisa da doença para as origens da saúde, descobrindo a influência do estresse e do estilo de vida no bem-estar físico.
O modelo resultante é chamado Salutogênese, derivado de ‘salus‘, que significa saúde, e ‘genesis‘, que significa origem.
A salutogênese vê a saúde em um espectro de “conforto e desconforto” e identifica aspectos que levam o indivíduo de um estado para outro.
Esses aspectos, denominados estressores, podem ser demandas internas ou externas que perturbam a homeostase do corpo.
Em vez de tentar curar um paciente doente, a salutogênese procura ajudá-lo a atenuar os estressores.
A teoria começou com uma investigação sobre as origens da saúde. Antonovsky encontrou sua resposta no que ele chama de Sense of Coherence, o conceito-chave do modelo salutogênico.
“Senso de coerência” é uma escala que avalia como as pessoas veem a vida e mantêm sua saúde por meio de um sentimento de otimismo e controle.
O conceito esclarece por que alguns indivíduos sob estresse adoecem enquanto outros permanecem saudáveis.
Três componentes principais definem um senso de coerência – compreensibilidade, capacidade de gerenciamento e significado.
Design Salutogênico
Na década de 1990, o arquiteto Alan Dilani sugeriu que o método salutogênico fosse aplicado não apenas ao tratamento médico, mas também ao projeto arquitetônico de instalações médicas para incentivar a boa saúde.
Por meio de sua própria pesquisa baseada no trabalho de Antonovsky, Dilani propôs o Design de Apoio Psicossocial como uma estrutura para erradicar a ansiedade por meio do desenho espacial.
A estrutura ilustra as causas do estresse e apresenta fatores de bem-estar que apoiam o processo de cura.
Partindo do conceito de Sense of Coherence, Dilani identificou qualidades de projeto que fortalecem o senso de compreensão, capacidade de gerenciamento e significado em um indivíduo.
Embora o design salutogênico possa ser aplicado a qualquer estrutura, ele se mostra mais vantajoso para instalações de saúde onde o ambiente construído influencia na recuperação do paciente e promove um processo de cura natural.
Senso de Compreensibilidade
No contexto do design salutogênico, a compreensibilidade refere-se à medida em que se pode entender o entorno como ordenado, claro e estruturado.
As pessoas devem ser capazes de compreender o contexto em que se encontram.
Os hospitais geralmente são lugares onde a compreensão é delegada – os pacientes raramente compreendem sua doença ou como os tratamentos funcionam.
Eles geralmente são conduzidos entre os quartos, não tendo noção do espaço por conta própria.
Os arquitetos podem projetar instalações hospitalares com caminhos mais intuitivos por meio do planejamento geral e sistemas de sinalização.
O projeto de instalações de saúde também pode reforçar a sensação de compreensão por meio de cores, pontos de referência e vistas da natureza.
Essas táticas não apenas ajudam os pacientes a compreender seu entorno, mas também aumentam sua confiança na realização de suas próprias iniciativas.
Senso de Gerenciamento
O gerenciamento lida com o senso de controle de um indivíduo sobre sua situação e ambiente.
Os projetos tradicionais de assistência médica conseguiram tornar os espaços gerenciáveis para a equipe, com serviços centralizados, controle de infecções, supervisão de pacientes e organização eficiente do espaço.
Para os pacientes, gotejamento intravenoso, incubação, aquecimento/resfriamento, diálise e outras formas de “suporte vital” os ajudam a sentir que podem melhorar por conta própria.
O design salutogênico pode permitir mais funcionalidade nas instalações de saúde para melhorar a sensação de independência nos pacientes.
Ao fornecer janelas operáveis ou acesso às instalações, o paciente se sente capaz de tomar decisões para sua saúde e agir de acordo com elas.
A acessibilidade a recursos, funcionários, familiares e amigos também auxilia os pacientes a exercerem o controle de seu ambiente.
Senso de Significado
O aspecto motivacional que aborda o sentimento de que a vida tem um significado emocional é o que Antonovsky chama de “Senso de Significado”.
A fonte de significado das pessoas geralmente está fora dos muros dos hospitais, ou seja, na família, amigos, arte, música, esportes ou religião.
Isso dificulta o estabelecimento de significados em instalações médicas onde os pacientes são isolados da interação social e do mundo exterior.
A arquitetura hospitalar também é estereotipada como estéril e sombria.
Através da abordagem salutogênica, os centros de saúde podem oferecer instalações artísticas, espaços de música e apoio social e locais recreativos como bibliotecas ou academias.
Além disso, é possível incorporar a natureza e os animais em suas instalações para inspirar os enfermos.
Vistas de paisagens naturais também servem como distrações positivas e têm um efeito comprovado em impulsionar a recuperação do paciente.
Arquitetura como Tratamento
Vários outros modelos de arquitetura salutogênica foram desenvolvidos, como a “Neurologia do Design Salutogênico” de Jan Golembiewski, o “Método de Design Salutogênico” de Tye Farrow e a “Teoria do Design de Apoio” de Roger Ulrich.
O que esses modelos têm em comum é priorizar o estado mental do paciente como meio de facilitar a recuperação.
O modelo salutogênico, com sua filosofia de design, apoia a ideia de que os indivíduos têm uma capacidade inata de curar a si mesmos.
Também é reconhecido que a arquitetura salutogênica requer mais do que uma equipe de projeto.
Toda a organização de saúde deve entender o significado e o impacto do design salutogênico em seus sistemas existentes.
Essa forma de pensamento incentiva arquitetos, profissionais de saúde e pacientes a fazer um brainstorming de como os recursos da construção podem aumentar a sensação de coerência e tornar a arquitetura uma ferramenta de tratamento médico.
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Via ArchDaily (https://www.archdaily.com.br/br/985271/o-que-e-arquitetura-salutogenica)