Quem trabalha com arquitetura há muito tempo conhece o conceito de parametrização, uma maneira de projetar a partir de parâmetros pré-definidos, combinando tecnologia computacional e algoritmos para alcançar o resultado desejado.
Isso é particularmente interessante no caso de projetos com curvas acentuadas ou formas geométricas complexas. Com os softwares da arquitetura paramétrica, o profissional não mais precisa testar, à mão, as curvas e os traços até chegar onde se quer.
Nas palavras do arquiteto Lula Gouveia, sócio do Superlimão (@superlimão), os parâmetros servem como diretrizes e restrições que orientam o desenvolvimento do projeto, garantindo que os resultados estejam dentro das especificações desejadas.
“Por exemplo, definir que uma estrutura deve suportar a chuva ou que um produto deve caber em um contêiner de 6 m são exemplos de parametrização. Ou seja, nada mais é do que definir parâmetros, assim como o trabalho do arquiteto, que define parâmetros para se chegar ao projeto”, explica.
Segundo ele, a parametrização por si só não é nada novo, pois todo bom projeto de arquitetura parte da escolha de bons parâmetros de projeto.
“A grande novidade dos softwares de parametrização é que ao invés de se ficar tentando desenhar curvas ou chegar no traço do resultado, determina-se os parâmetros com o que você quer trabalhar e a partir daquele momento a máquina ou o software só te dará resultados que caibam nesses parâmetros, eliminando os erros”, afirma.
Como funciona a arquitetura paramétrica
Na parametrização, os profissionais indicam quais parâmetros devem ser alimentados no software. Estes incluem os parâmetros locais, como a posição do sol e a direção do vento; os parâmetros sociais, como a capacidade de acomodar um determinado número de famílias ou garantir acessibilidade total; e parâmetros de materiais e desempenho, como limites de emissão de carbono e consumo de energia.
“Esses parâmetros ajudam a garantir que o projeto atenda às especificações ambientais, sociais e de desempenho. “No Superlimão, usamos os softwares: Rhinoceros e Grasshopper, bem como programação em Python”, diz Lula.
No caso de uma peça de mobiliário, por exemplo, o parâmetro que determina a espessura dos materiais pode ser ajustado para que todos os encaixes entre as peças sejam automaticamente corrigidos.
“Outro exemplo é a dimensão dos assentos, onde a inclinação do espaldar, profundidade e largura também podem ser ajustados para criar diferentes alternativas no processo de projeto como a imaginação permitir”, explica Renata La Rocca, sócia-fundadora do Estúdio Protobox (@protobox.br).
Importância e vantagens da parametrização no projeto
Wilson Barbosa, sócio de Renata no Protobox, afirma que a parametrização permite explorar múltiplas variações de um modelo 3D de maneira muito rápida, facilitando a personalização e a otimização de soluções arquitetônicas e de design.
“A parametrização permite a personalização em massa, quando utilizada em associação com métodos de fabricação controlados por computador. Além disso, a inteligência do modelo projetado permite que os ajustes efetuados no objeto sejam feitos de forma automática, a partir dos parâmetros projetados”, afirma.
Junto à fabricação digital, a arquitetura paramétrica também permite explorar formas orgânicas mais arrojadas nas peças projetadas.
Outra vantagem significativa desta forma de projetar é a eliminação de erros, já que o software só gera resultados que atendem aos parâmetros definidos. Além disso, conforme Lula, a parametrização aumenta a eficiência do processo de projeto, tornando-o mais rápido e eliminando a possibilidade de erros.
“Mesmo dentro dos parâmetros, há espaço para a criatividade e inovação, pois o mais importante é o traço do arquiteto e designer que definem os parâmetros e resultados”, diz.
Para ilustrar melhor, ele usa uma metáfora: a parametrização é como desenhar em uma “caixa”, onde tudo o que se fizer dentro dela está permitido. “Aqueles com expertise conseguem desenvolver projetos de forma muito mais rápida, enquanto os menos experientes podem enfrentar dificuldades em concluir qualquer projeto”, explica.
Parametrização e sustentabilidade
Outro dos grandes benefícios do uso da parametrização em projetos é a sustentabilidade: “A parametrização contribui para a sustentabilidade de várias maneiras. Primeiramente, ao eliminar erros no processo de projeto, ela gera economia e melhora a eficiência, resultando em um processo mais sustentável”, diz Lula.
Ele acrescenta que a parametrização permite estabelecer limites específicos para o consumo de recursos e a emissão de poluentes.
“Por exemplo, ao definir que um edifício não pode consumir mais que uma determinada quantidade de energia ou emitir mais que um certo nível de carbono, o projeto é obrigado a usar materiais e tecnologias sustentáveis”, afirma.
Assim, o software evita soluções que não atendem a esses critérios, promovendo práticas de construção mais sustentáveis e eficientes.
Parametrização + soluções de inovação
A parametrização na arquitetura e no design está frequentemente associada a várias inovações tecnológicas e pode ser aplicada em uma variedade de projetos, desde objetos – como peças de mobiliário e elementos decorativos – até um edifício completo.
Entre essas inovações tecnológicas, Renata destaca o design generativo, no qual algoritmos são usados para gerar múltiplas soluções [formas, volumes, etc.] de um projeto com base nas regras estabelecidas, permitindo a exploração de diversas alternativas.
Lula acrescenta que, na arquitetura generativa, o big data analisa grandes volumes de informação para identificar as melhores soluções projetuais, o que pode ser de grande valor para o profissional.
“Outra inovação que se apropria da parametrização é a modelagem BIM, que integra informações paramétricas em modelos digitais para facilitar a coordenação e o gerenciamento de projetos”, completa Renata.
Segundo Wilson, a fabricação digital também se beneficia da parametrização. Ela conecta tecnologias controladas por computador para materializar componentes personalizados. Alguns exemplos são as impressoras 3D, cortadoras a laser e fresadoras CNC, que estão disponíveis tanto em escala industrial quanto no contexto de ambientes de trabalho com equipamentos nas versões desktops.
“A inteligência artificial integra e analisa dados, parâmetros e resultados para otimizar o processo de projeto, garantindo que todos os componentes conversem da melhor maneira”, afirma Lula.
Segundo ele, quando tais tecnologias são combinadas com a parametrização, permitem um processo mais eficiente, preciso e inovador, potencializando a criatividade do arquiteto.