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Arquitetura hostil: A cidade é para todos?

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Você já ouviu falar do termo Arquitetura hostil?

Cunhado em junho de 2014 pelo repórter Ben Quinn no jornal britânico The Guardian, a matéria originalmente intitulada Anti-homeless spikes are part of a wider phenomenon of ‘hostile Architecture(As pontas de ferro anti-desabrigados são parte de um fenômeno mais amplo conhecido como “arquitetura hostil”) [1] surpreendeu cidadãos de todo o mundo que passaram a notar em seus contextos as práticas listadas por Quinn.

Ali ele discorreu sobre como o desenho urbano têm influenciado o comportamento e o convívio, criticando como a abordagem ao mesmo tem buscado excluir moradores em situação de rua dos centros urbanos.

Das soluções urbanas expostas, bancos desenhados especialmente para exclusão de moradores de rua e skatistas e ainda espetos sobre muretas ou proteções sob marquises foram alguns dos exemplos citados.

As medidas dividiram opiniões no país. Enquanto grande parte da população confrontou o governo alguns designers e cidadãos, por outro lado, defenderam o desenho das peças como agentes de “prevenção do comportamento criminoso” [2].

Os exemplos são muitos: em Guangzhou, na China, em uma área livre coberta abaixo de um dos viadutos da cidade, foram introduzidas milhares de pedras pontiagudas para evitar que moradores de rua se apropriassem do espaço como abrigo.

A mesma solução foi aplicada abaixo de viadutos e passarelas de Belo Horizonte, em Minas gerais, e em muitas outras cidades pelo mundo.

Os exemplos podem ser ainda mais ríspidos. Cercas elétricas, arames farpados, grades no perímetro de praças e gramados, bancos públicos com larguras inferiores ao recomendado pelas normas de ergonomia, bancos curvados ou ainda assumindo geometrias irregulares, lanças em muretas e guarda-corpos, traves metálicas em portas de comércios, pedras em áreas livres, gotejamento de água em intervalos estabelecidos sob marquises, e tudo que puder de alguma forma afastar ou excluir pessoas “indesejáveis” dos locais públicos urbanos.

Dez anos antes, em 2005, a artista plástica Sarah Ross, já havia desenvolvido uma série de vestimentas-manifesto capazes de adaptar-se a estruturas e peças públicas urbanas de Los Angeles, intitulada Archisuit [3].

 

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Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), estima-se que no Brasil há 101 mil moradores de rua, do qual, cerca de “40,1% estejam em municípios com mais de 900 mil habitantes e 77,02% em cidades com mais de 100 mil pessoas” [4], enquanto que 6,63%, viviam em “municípios menores, com até 10 mil habitantes” [5].

Partindo dos números alarmantes e notícias quanto ao número de pessoas vivendo precariamente nas ruas, de óbitos causados pelas baixas temperaturas no inverno, da fome e condições degradantes, o que se percebe, é que ações promovidas pelos Órgãos Públicos e população deflagram a falta de gentileza, que diariamente “fecham seus olhos” para a cruel realidade.

Algumas ações no território brasileiro visam “revelar” quem são essas pessoas, não apenas em números, mas enquanto seres humanos. Entre eles, destaca-se o projeto SP Invisível, criado por em 2014, pelo jornalista Vinicius Lima e o fotógrafo André Soler.

Atua como um “movimento de conscientização das pessoas através de histórias de pessoas em situação de rua da cidade de São Paulo” [6], que através de fotografias e depoimentos colhidos, tentam “abrir os olhos das pessoas para que todos possam se ver com olhares mais humanos e assim se interagirem e conectarem, cada vez mais, até que toda cidade se enxergue com os olhos do coração” [7].

O tema é bastante complicado e abrangente, e não pode ser abordado de maneira simplista ou romantizada. O número alarmante de moradores de rua expõe desigualdades estruturais na sociedade brasileira, evidenciando o estado mais degradante que um ser humano pode chegar, que muitas vezes vem acompanhado de falta de opções, abandono familiar, dependência química, problemas psiquiátricos, etc.

Além disso, a responsabilidade não pode ser colocada nas costas dos arquitetos, projetistas e sociedade, uma vez que. Mas fica a provocação de que, sempre ao abordarmos o tema de cidades inclusivas ou para pessoas, acabamos omitindo os moradores em situação de rua.

 

Fonte: ArchDaily

 

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