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Bauhaus – A escola alemã que até hoje influencia os objetos ao nosso redor

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Em Berlim, o Museu Bauhaus Archiv da Alemanha está dando uma festa de despedida. No próximo ano, o prédio será fechado para reformas e, até lá, apresenta uma exposição dos “maiores hits” da maior coleção de Bauhaus do mundo.

De móveis até pôsters e utensílios para a casa, esses objetos mostram como a escola de Bauhaus influenciou nossa ideia de um bom design.

Uma lâmpada original de design icônico feita por Wilhelm Wagenfeld ao lado de uma réplica moderna no Museu Bundeskunsthalle (Foto: Oliver Berg/DPA/Alamy)

Para a maioria das pessoas, a palavra Bauhaus lembra um tipo específico de arquitetura moderna, aquela estética dura que gerou milhões de blocos de edifícios.

Mas a Bauhaus foi muito mais do que um estilo de arquitetura – foi uma maneira nova de pensar e, um século depois de nascer, no final da Primeira Guerra Mundial, suas ideias ainda determinam a maneira como vivemos hoje.

A Bauhaus foi criada em 1919 na cidade alemã de Weimar por um arquiteto prússio chamado Walter Gropius. Nenhuma aula de arquitetura foi dada ali.

Era uma espécie de escola de artes, mas diferente de todas as outras. Em vez de pintar nudez com modelos humanos, os alunos eram ensinados a enxergar o mundo ao seu redor de uma maneira completamente diferente.

Bauhaus significa “casa em construção”, mas Gropius não queria construir apenas casas. Ele queria criar uma nova espécie de artistas que poderiam trabalhar com qualquer coisa.

Escolas de arte profissionais eram conservadoras e elitistas. Escolas técnicas eram chatas e convencionais. Gropius quebrou a barreira entre belas artes e artes aplicadas.

O museu Bauhaus Archiv, da Alemanha, abriu uma exposição dos “maiores hits” da maior coleção de Bauhaus do mundo enquanto passa por reformas

“Não há uma diferença essencial entre o artista e o artesão”, disse ele. Seus pupilos aprendiam cerâmica, gravuras, confecção de livros e carpintaria. Eles estudaram tipografia e publicidade. Eles foram ao básico e começaram do zero com um olhar novo.

“Um objeto é definido por sua natureza”, anunciou Gropius. “Para criá-lo de maneira que ele funcione direito, deve cumprir sua função de uma maneira prática”. Em vez de ficar sentado em salas de aula, os alunos faziam workshops. Eles aprendiam na prática.

A natureza dos objetos

Os resultados eram extraordinários. A Bauhaus produzia uma incrível variedade de artefatos, desde luminárias até tabuleiros de xadrez, todos se destacando por seu design funcional e elegante.

Eles eram simples e úteis e sua simplicidade os tornava mais bonitos. Em uma época em que os ornamentos estavam em alta, sua aparência aerodinâmica era revolucionária. Era uma nova era do design.

A influência de Bauhaus ainda é vista hoje, evidenciada nesse prédio moderno de Londres (Foto: Robert Oliver/ArcaidImages)

“Os workshops Bauhaus eram laboratórios em que protótipos de produtos adequados para a produção em massa eram desenvolvidos com cuidado e continuamente melhorados”, disse Gropius.

“Nesses laboratórios, a Bauhaus treinava e educava um novo tipo de trabalhador para a indústria e o artesanato, com um controle igual tanto de forma quanto de tecnologia”.

A Bauhaus foi criada em 1919 na cidade alemã de Weimar por um arquiteto prússio chamado Walter Gropius, à direita (Foto: Keystone Pictures/Alamy)

Nem todos concordavam com isso. Nas eleições locais em 1924, os liberais que apoiavam a Bauhaus foram derrotados, e o novo governo – conservador – cortou as verbas da escola. Em 1º de abril de 1925, exatamente 6 meses depois de aberta, a Bauhaus foi obrigada a fechar.

Ainda assim, hoje a notoriedade de Bauhaus se espalhou muito além de Weimar, e outra cidade alemã, Dessau, lhe deu um novo lar. O governo local lhe concedeu um prédio novo espetacular, desenhado por Gropius. Foi ali que a Bauhaus cresceu.

Um novo lar

Em Dessau, Gropius começou a dar aula de arquitetura, mas logo incluiu outros gêneros também. Havia workshops de tecelagem, trabalho com metais, fotografia e design de palco.

Gropius saiu de lá para se aposentar de sua carreira como arquiteto, mas com um novo diretor, Hannes Meyers, a escola foi de vento em popa.

O papel de parede de Bauhaus virou o produto mais vendido da escola. Ao menos era uma escola de artes que podia pagar suas contas.

De tabuleiros de xadrez até este cinzeiro de Marianne Brandt, o Bauhaus inspirou o design além da arquitetura (Foto: Gunter Lepkowski/Bauhaus Archiv/VG Bild-Kunst)

Mas a política alemã estava ficando polarizada e o apoio aos nazistas estava crescendo. Em 1930, a administração da cidade de Dessau demitiu Meyer dizendo que ele tinha “tendências comunistas” e, em 1931, os nazistas venceram as eleições locais, prometendo fechar a Bauhaus, que eles chamavam de “bolchevismo cultural”.

Felizmente, o prédio de Gropius sobreviveu e ainda está em pé até hoje, mas seus estudantes foram obrigados a fugir. Eles encontraram um novo lar em uma velha fábrica em Berlim com uma nova direção, do brilhante arquiteto Mies van der Rohe, mas em 1933 Hitler chegou ao poder e fechou a Bauhaus.

Uma ameaça moderna

Por que os nazistas se sentiram tão ameaçados por Bauhaus? Por que eles ficaram tão assustados com uma escola de artes que fazia móveis e utensílios de cozinha modernos? Porque representava uma visão de mundo que era exatamente oposta à do Partido Nazista.

O nazismo era nostálgico e nacionalista. A Bauhaus era cosmopolita e avant-garde. Seu ethos internacional era um deboche das fantasias racistas de Hitler.

De certa forma, a perseguição de Bauhaus pelos nazistas era um belo de um elogio. Eles odiavam de tudo que a escola representava porque tinham medo de seu poder.

Em Tel Aviv, a Cidade Branca é uma coleção de mais de 4 mil prédios construídos a partir dos anos 1930 no estilo Bauhaus por imigrandes alemães judeus (Foto: IAISI/Getty)

Ironicamente, foi a perseguição à Bauhaus que garantiu sua sobrevivência. Se ela tivesse sido abraçada pelo Terceiro Reich, teria morrido com ele.

Forçada ao exílio, sua filosofia se espalhou pelo mundo. Gropius e Mies van der Rohe foram aos Estados Unidos, onde se uniram a outros professores Bauhaus como Josef Albers, Herbert Bayer, Walter Peterhaus e Laszlo Moholy-Nagy.

Em 1937, Moholy-Nagy criou a “Nova Bauhaus” em Chicago. Em 1938, O Museu de Arte Moderna de Nova York foi o palco de uma popular exposição de Bauhaus. O estilo veio para ficar.

Mas o que é exatamente o estilo Bauhaus? Como todos os designs clássicos, você identifica imediatamente quando o vê, mas o mote de Mies van der Rohe, “menos é mais”, é um bom começo: a forma segue a função.

Uma visitante observa mesas e cadeiras expostas na exibição “Bauhaus Arte como Vida” em Londres, em 2012 (Foto: Fred Duval/WireImage)

Cada elemento é despido até sua essência. Tudo é feito com propósito. O resultado é austero, mas agradável aos olhos.

Ainda assim, a verdadeira medida de sua enorme influência é quão familiar ele se tornou. Ao caminhar pelo Bauhaus Archiv (um prédio futurista planejado por Gropius e construído após sua morte), as exibições parecem muito contemporâneas.

Apenas quando você lê as descrições que percebe que elas têm mais de 100 anos. Uma vez uma revolta radical contra o status quo, o estilo Bauhaus se tornou o novo normal. E ao se tornar onipresente, desapareceu na decoração de nossas vidas cotidianas.


via: http://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-42117289

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