Várias cidades ao redor do mundo estão adotando medidas para melhorar a segurança viária e evitar mortes e lesões no trânsito. Uma iniciativa amplamente difundida é a “Visão Zero”, iniciada na Suécia, que define que nenhuma vida perdida no trânsito é aceitável, apresentando o redesenho viário como solução para salvar vidas. Além disso, ela aponta diversos atores responsáveis pelas ocorrências, como engenheiros e planejadores urbanos, além dos motoristas.
É nesse contexto que surgiu o Global Street Design Guide (Guia Global de Desenho Viário), um documento desenvolvido pela NACTO e lançado em outubro de 2016, que aborda diversos conceitos e possibilidades de transformação das cidades a partir da priorização de pedestres e ciclistas.
O manual é estruturado a partir de três grandes seções:
Sobre as ruas: seção que discute porque as ruas são importantes, os processos envolvidos no desenho e implementação de projetos viários e maneiras para medir e avaliar ruas e suas intervenções viárias.
Orientações para o desenho viário: seção que discorre sobre a importância de considerar o contexto e cultura locais na concepção de projetos, maneiras para identificar os diferentes grupos de usuários e desenhar estratégias para suas necessidades, além de estratégias de gestão, operação e parâmetros para futuras intervenções viárias.
Transformação das ruas: seção que identifica possíveis reconfigurações viárias de acordo com as diversas tipologias de ruas e interseções, além de estudos de caso que revelam como cidades no mundo transformaram suas ruas em prol da segurança viária para os usuários.
A seguir destacam-se algumas estratégias presentes no guia para medir e analisar e, assim, subsidiar projetos para espaços plenos, justos e equitativos para todos os usuários do sistema viário.
COMO ANALISAR RUAS
As ruas devem ser compreendidas como redes de transporte e espaços públicos que se conectam e podem abrigar uma grande diversidade de atividades como caminhar, pedalar, sentar em um bar ou café, celebrar, fazer compras, encontrar amigos, relaxar, entre outras. Quando essa diversidade de usos e usuários é contemplada no projeto de desenho viário, ela gera uma cidade que prioriza a escala das pessoas, garantindo a segurança de todos os usuários.
Para que a geometria de via tenha uma distribuição igualitária e eficiente do espaço, algumas etapas de análise nas mais diferentes escalas podem trazer subsídios para diretrizes de projetos e intervenções:
Escala do bairro: analisar o contexto no qual a via está localizada, levantando dados como demografia, densidade, história e cultura, uso do solo, acesso e redes de transporte, conectividade, dimensão das quadras da malha urbana, segurança viária, ecossistemas, probabilidade de desastres naturais, topografia, saúde pública;
Escala da via: analisar atividades que ocorrem ao longo do dia, presença de mobiliário urbano, respeito à escala humana, prioridade aos pedestres, fachada ativa, transparência, número de entradas, pontos de ônibus, estações de metrô, sistema alternativo de drenagem, clima, gestão das calçadas, infraestrutura e outros elementos que compõem o espaço.
Escala dos usuários: Identificar os usuários da via (pedestres, ciclistas, usuários de transporte público, veículos motorizados individuais, veículos de carga e comércio local e de rua), comparar a velocidade média de deslocamento desses usuários, estabelecer entre eles uma relação de distância percorrida dentro do mesmo período de tempo e identificar as diferentes escala dos usuários e dimensão que cada um representa na ocupação do espaço da via (calçadas, ciclovia, ciclofaixa, faixa exclusiva para ônibus, leito carroçável).
via: https://www.archdaily.com.br/br/885443/como-o-desenho-urbano-pode-salvar-vidas