A exploração do ouro teve relativo sucesso no Paraná, entre a segunda metade do século XVIII e início XIX. Sua pequena produção, insuficiente para formar grandes fortunas, fez com que essa área fosse abandonada pela população para aí atraída devido à descoberta do ouro em Minas Gerais.
Durante o século XVIII passaram a predominar no estado as atividades mais sedentárias, ligadas à criação e ao transporte do gado, as lavouras de subsistência (feijão, milho, trigo, etc) e “(…) o comércio de mate de 1772 em diante (data da Resolução Régia que permitiu que o comércio da congonha fosse feito com o Rio da Prata)”.
HISTÓRIA
O caráter mais sedentário das atividades agropastoris permitiu que a população se juntasse em determinados locais de “pouso” e de “currais”, isto é, lugares de descanso ou invernada de gado e, entre estes, o atual município de Campo Largo, ponto de passagem do caminho Sorocaba-Viamão, uma das ramificações, da estrada de ligação entre o planalto e o litoral.
Não se sabe ao certo a época em que se iniciou o povoamento de Campo Largo, situado na zona fisiográfica conhecida como Planalto de Curitiba, mas há notícias de que um de seus primeiros habitantes foi o coronel português Antonio Luiz, proprietário da sesmaria que veio a configurar o território do município.
O desenvolvimento das atividades extrativas, principalmente a da erva-mate, e o estabelecimento de uma política imigratória no final do século XIX criaram condições para o estabelecimento de uma economia auto-suficiente no Paraná, que até esse momento importava inclusive os gêneros de primeira necessidade.
Somente a partir de então os municípios e vilas do planalto de Curitiba iriam desenvolver-se de maneira promissora. Os jesuítas espanhóis, em suas missões implantadas na porção meridional do continente sul americano a partir do início do séc. XVII, num primeiro momento procuraram coibir o tradicional hábito do consumo da erva-mate pelos indígenas, chamando-a em alguns documentos de “erva do diabo”.
No entanto, acabaram assimilando o uso do mate e aprenderam com os índios guarani as técnicas para seu preparo e cultivo tornando-se, até sua expulsão do novo mundo em meados do século XVIII, os detentores de sua exploração e verdadeiros difusores da erva-mate.
A partir da divulgação dessas técnicas pôde o comércio de mate organizar-se e expandir- se. No Paraná, esse comércio só ganhou importância no século XIX, sendo realizado até 1808 em escala limitada aos portos brasileiros através de Paranaguá, juntamente com a exportação de outros produtos.
Campo Largo Antigo Engenho de Mate da Rondinha
A proibição de exploração da erva-mate adotada em 1813 pelo ditador Francia do Paraguai, na época o maior produtor e exportador ervateiro, abriu novos mercados para a comercialização do produto.
Esse fator, aliado ao da existência de numerosos ervais nativos no Paraná, atraiu técnicos e comerciantes de outros países, como Francisco de Alzagaray, que aprimorou os processos de produção e acondicionamento que resultaram na melhoria da qualidade do mate paranaense.
Inicialmente, as novas técnicas foram adotadas no litoral; em seguida, no planalto paranaense, o que pode explicar o fato de a erva-mate sair do planalto em estado bruto para ser beneficiada nos engenhos do litoral.
Mais tarde o litoral iria caracterizar- se pela atividade de comercialização e o planalto pela de beneficiamento. Em 1826 o Paraná, além de exportar produtos primários para os portos nacionais, também o fazia para os do Uruguai, Chile e Argentina, sendo essa atividade, daí para frente, a base econômica do estado, e Paranaguá a área dinâmica do comércio ervateiro exportador.
Entre 1827-30 um único engenho de mate estava registrado em Paranaguá; porém, apesar das dificuldades no processo de produção e comercialização na década seguinte foram identificados, em Curitiba, 21 senhores de engenho.
Em 1874 o viajante inglês Thomas Bigg-Whitter refere-se a um engenho de mate nos arredores da cidade de Campo Largo, que parece corresponder ao atual Museu do Mate, em Rondinha; sua existência, já nessa época, pode ser comprovada através da monografia O Mate do Paraná, do desembargador A. J. Macedo Soares, publicada em 1875, que relata a existência de 13 engenhos em Campo Largo, citando, entre esses, o do Sr. Carlos Franco.
ARQUITETURA
Construída por volta de 1870, a edificação foi restaurada pelo governo do estado do Paraná entre 1980 e 1981, quando passou a funcionar como Museu do Mate, no qual os equipamentos relacionados à produção foram identificados, resgatados e reunidos, reconstituindo-se plenamente todas as etapas de funcionamento de um engenho de mate.
O agenciamento paisagístico da área, próxima à Rodovia BR-277, visando a criação do Parque Histórico do Mate, introduziu novos elementos no conjunto como espelho d´água, churrasqueiras, etc.., modificando em parte, a paisagem original na qual se inseria a edificação – último remanescente dos antigos engenhos de mate de soque hidráulico que ainda era mantido em razoável estado de integridade.
A restauração, executada consoante projeto dos arquitetos Cyro Corrêa de Oliveira Lyra e José La Pastina Filho, reconstituiu a estrutura original da edificação modificada em 1896 com a demolição do forno, retirada da bateria de pilões, construção de mezanino e alteração do telhado.
Essas mudanças decorreram da necessidade de adaptação do programa de engenho de mate para o de moinho de cereais com a introdução de mós e aproveitamento da mesma força motriz hidráulica.
Identificadas as antigas fundações, foi possível reconstituir a planta baixa original, quadrada, e consequentemente foi feita a correspondente recomposição do telhado, consolidados e restaurados os elementos estruturais de cobertura, piso, vedações e esquadrias.
Situado no sopé de um morro, perfeitamente integrado à extensa planície e em região de relevo acidentado, o Engenho do Mate beneficiava-se da proximidade de um curso d´água, desviado do Rio Rondinha, por meio de canal que acompanhava a curva de nível descendo até à altura da roda-d´água.
A área na qual se situa o Museu do Mate, desapropriada para fins de utilidade pública, foi considerada entorno do monumento tombado, em função de suas qualidades paisagísticas e da integração dessa paisagem com a edificação.
O tombamento, a nível federal, incluiu também a coleção que constitui o acervo do Museu do Mate. Fruto de parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná e o Ministério da Cultura, foi novamente restaurado no final de 2004, com verbas federais através da 10ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O museu do Mate é hoje unidade vinculada ao Museu Paranaense.
DADOS
Localização: Distrito da Rondinha, Município de
Campo Largo.
Data da construção: cerca de 1870. Construtor
Capitão Carlos José de Souza Franco.
Proprietário: Governo do Estado do Paraná.
Tombamento federal: Processo nº1119-T, Inscrição
nº 496. Livro Histórico fl. 88; Inscrição nº 567. Livro
das Belas-Artes, vol. II. Data: 24/04/1985.
Tombamento estadual: Processo nº. 19/68, Inscrição
nº19. Livro do Tombo Histórico. Data: 10/07/1968.
VIA: Espirais do tempo
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