A iniciativa visa combater a predominância da cultura dos carros na cidade
Dez anos atrás, quando Pezhman Hourizadeh abriu seu consultório de optometria no Queens, a fachada dava para uma rua que tinha apenas um quarteirão de comprimento e servia principalmente como estacionamento das vans pertencentes às empresas de mudanças do bairro.
“Os pacientes que vinham de carro não conseguiam entrar”, lembrou ele. Agora a paisagem é diferente: não há rua.
A cidade a fechou como primeira etapa na criação de uma praça, um projeto de US$ 5,4 milhões que mudou a aparência e o clima no quarteirão. Hoje, a vista da sala de espera de Hourizadeh dá para mesas onde pessoas se sentam sob guarda-sóis laranjas.
O que ocorreu em Queens, na Corona Plaza, é um exemplo de alquimia urbana – a transformação de um curto trecho asfaltado num pequeno oásis.
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Trata-se de uma alquimia que a cidade empregou várias vezes nos últimos 10 anos, transformando radicalmente alguns dos corredores mais movimentados de Nova York.
A praça diante do consultório de Hourizadeh é a mais recente de 74 praças destinadas a pedestres – pequenos espaços espalhados pela cidade com o objetivo de aliviar os congestionamentos e a poluição.
Elas somam 30 acres de terras que antes eram ruas, um total aparentemente modesto que, ainda assim, revelou-se significativo, apesar de despertar controvérsia.
“No grande plano geral das coisas, não entregamos muito espaço para as praças destinadas a pedestres”, disse Paul Steely White, diretor-executivo do grupo Transportation Alternatives, “mas não deixa de ser um espaço importante.
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Está situado nos bairros mais densos da cidade. Fica perto de cruzamentos. Próximo de importantes centros comerciais”.
Além disso, White conta que, numa cidade permanentemente congestionada, o fechamento de ruas, obrigando os motoristas a desviar dos espaços destinados às praças, é uma proposta que transmite um recado: “A cultura dos carros não é a cultura predominante nas ruas”.
Para as pessoas que as cruzam – seja passeando ou caminhando apressadamente para não se atrasar para algum compromisso -, as praças parecem parques públicos nas ruas, mas seu design é diferente.
Do ponto de vista da organização da cidade, esses espaços são supervisionados pela secretaria de transportes, e não pela secretaria de parques. E, em alguns bairros, sua chegada foi recebida com resistência em meio aos temores de que seriam um primeiro passo para a gentrificação.
Simeon Bankoff, diretor-executivo do Conselho de Distritos Históricos, descreveu o programa de criação de praças para pedestres como “um conjuntos de resultados muito variados”.
“Em alguns casos, mesas são montadas, e logo o lugar é tomado pelo público dos carrinhos de lanches”, disse ele.
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Quando o programa de praças para pedestres teve início na cidade, houve controvérsia porque seria necessário bloquear algumas das ruas mais movimentadas da cidade – ou até do mundo.
Passados dez anos, o programa alterou o clima da cidade, tornando-a mais amigável para os pedestres e, de acordo com as autoridades, mais seguras e limpas – e não estamos falando apenas do centro de Manhattan, onde o fechamento de Times Square serviu como demonstração de alta visibilidade do projeto.
Funcionários do governo municipal dizem que, ao desviar o tráfego de veículos no centro, houve uma queda de 35% nos episódios de pedestres atropelados e de 63% nos ferimentos envolvendo motoristas e passageiros resultando de acidentes de menor escala.
Em julho, a cidade celebrou o décimo aniversário do programa de praças para pedestres com uma cerimônia em Corona Plaza. Nesses dez anos, a ideia se espalhou para muito longe de Nova York.
Ruas fechadas para a circulação de veículos foram criadas na Cidade do México, em Bogotá, na Colômbia e em Adis Abeba, na Etiópia, valendo-se da experiência dos administradores nova-iorquinos que criaram o programa.
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“Agora a ideia é copiada nos Estados Unidos e em todo o mundo”, disse Samuel I. Schwartz, ex-comissário de trânsito de Nova York. “As cidades procuram oportunidades desse tipo, numa tendência oposta à época em que pensavam em alargar cada vez mais as ruas”.
Nem todos estão convencidos de que as ruas fechadas para a circulação exclusiva de pedestres são uma melhoria.
Samantha Sanchez, que trabalha num salão de beleza no Brooklyn, disse não ser fã de uma rua fechada que foi bloqueada para veículos enquanto novos conjuntos de apartamentos eram construídos em seu bairro. Com isso, o trânsito ficou mais confuso e um pouco da atmosfera local se perdeu.
“Sinto como se o Brooklyn autêntico estivesse se perdendo”, disse ela. “Eles querem uma Manhattan em miniatura. Mas Manhattan é mais conveniente para os pedestres do que esta região”.
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O fechamento de outras ruas para a circulação de carros atraiu a reação oposta. Sentado em Corona Plaza numa manhã recente, Reuben Hernandez disse se sentir num ambiente tão agradável quanto o de Manhattan. “Agora tenho a mesma sensação aqui”, disse ele. “Não preciso voltar lá”.
Hourizadeh, o optometrista de Corona Plaza, disse que seus pacientes ainda têm problemas para estacionar. Será que o fechamento da rua é uma melhoria?
“Em rápidas palavras, sim”, disse, ainda que se queixasse da demora na construção. Mas ele contou ter outra clínica a cerca de 12 quarteirões: “Gostaria que fizessem o mesmo lá”.
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via: https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,nova-york-cria-oasis-urbanos-em-areas-de-grandes-congestionamentos,70002435517